Como Gal Costa desafiou a ditadura com o álbum Fa-Tal – Gal a todo vapor

Olivia meireles

Lançado pela gravadora Philips no fim de 1971, o álbum Fa-Tal – Gal a todo vapor é uma obra-prima da discografia brasileira. A importância desse trabalho transcende a questão musical

O disco é um registro, ao vivo e sem filtros, do show apresentado por Gal no mesmo ano – no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro – e dirigido por Waly Salomão

O lançamento do álbum, três anos depois do AI-5, em dezembro de 1971, provocou a ditadura. Nas músicas, Gal desafiava as convenções sociais e políticas impostas pelo regime vigente à época

O trabalho consolidou Gal Costa como porta-voz do tropicalismo. Na época do lançamento, Caetano Veloso e Gilberto Gil estavam exilados na Europa, após serem perseguidos pela ditadura militar

Inicialmente, o álbum seria intitulado Gal a todo vapor. O termo “Fa-Tal” foi incorporado ao nome do disco porque, durante o show, a cantora recitava poemas de Waly Salomão, e um deles se chamava Fa-Tal

Pepeu Gomes tocou guitarra em cinco das 17 músicas gravadas no álbum. Jorginho Gomes, irmão de Pepeu, era baterista da banda de Gal. O músico baiano assumiu a direção musical do espetáculo no meio da turnê, após a saída de Lanny Gordin

A música Como 2 e 2 foi escrita por Caetano Veloso para Roberto Carlos, mas Gal decidiu interpretar a canção no show dois meses antes de o rei lançar o hit como single

O LP duplo obedeceu à ordem do roteiro do show, mas inverteu as duas partes dele: o set elétrico foi apresentado no disco 1, e o bloco acústico, no 2. Os fãs-raiz da cantora sugerem seguir a lista estruturada por Waly

A arte gráfica da capa do álbum tinha alta carga erótica e política. O design foi criado por Luciano Figueiredo e Oscar Ramos, a partir de fotos de Edison Santos e do cineasta Ivan Cardoso

Na época do lançamento do álbum, diziam que João Gilberto teria assistido ao show de Gal algumas vezes atrás da coxia. O cantor teve influência decisiva nas interpretações da canção Coração Vagabundo, do samba Falsa Baiana e da música Antonico

O álbum tem precisos 67 minutos e 45 segundos. Em formato de LP duplo, a capa interna era composta por poemas e palavras de ordem de Waly Salomão. A arte da contracapa trazia as seguintes palavras, grafadas no canto superior: “Boca. Microfone. Mão. Violão”

Autor:
Olivia Meireles

IMAGENS:
Divulgação